A LITERATURA E A INFÂNCIA
Diante da instituição familiar, a literatura
pode exercer, desde muito cedo, importante papel no desenvolvimento na
infância, uma vez que, ao estar envolvida pelo universo mágico que o acervo
literário produz, promove a construção do pensamento, da imaginação e da
expressividade na linguagem. Quanto mais a família propiciar à criança o
contato direto com os livros, de envolver-se com a fantasia, com o prazer de
estar manuseando e ouvindo uma história, maior a probabilidade de ela tornar-se
um adulto leitor.
Existe
então a necessidade de permitir à criança a oportunidade manusear, explorar,
vivenciar e apreciar a história que nele contém. Sendo assim, há uma grande
possibilidade de surgir, a partir daí, o futuro leitor crítico, criativo e
reflexivo. Portanto, eis aqui o compromisso dos pais na formação dos filhos,
pois será através Dessa iniciação que se estabelecerá um importante elo entre a
criança e o gosto pela leitura.
De acordo
com Ninfa Parreiras, “a literatura, como
uma expressão artística, é a arte das palavras. Como uma manifestação de
sentimentos, sensações, impressões e como a expressão lírica de um artista da
palavra e do desenho, ela provoca deleite e traz um trabalho poético com as
palavras, com as figuras de linguagem e com as imagens (2009, p. 22)”
A
literatura proporciona à criança, através do seu universo lúdico e criativo,
instrumentos para que ela desenvolva sua imaginação e criticidade, explorando
seu imaginário, ultrapassar as barreiras do pensamento, transformando emoções e
sentimentos de forma prazerosa e significativa, colaborando na sua formação e
no seu desenvolvimento enquanto sujeito.
Coelho
(1991 apud GREGORIM FILHO) menciona que “literatura infantil é, antes de tudo,
literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo,
o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o
imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização (2009, p.
22)”.
Nessa concepção, pode-se afirmar que a
literatura faz parte do convívio das pessoas, tanto adultos quanto crianças.
Unem-se o real, que são as vivências, aquilo que pode ser presenciado pela sua
concretude, e o imaginário, que são as fantasias, os desejos, os sentimentos.
Oferecer situações para que a criança esteja em contato com esse universo
encantador, vem contribuir na formulação dos seus conceitos.
A
LITERATURA E AS APRENDIZAGENS
Reconhecer
a importância da literatura e promover à criança o interesse e o gosto pela
leitura de textos variados que podem ser explorados, vividos por ela, através
de uma proposta enriquecedora do conhecimento, é dever de todos, ou seja, da
família, da escola e da sociedade em que está inserida. No entanto, para que
cada uma dessas instituições colabore de forma inovadora nesse processo, é
fundamental que o seu empenho seja voltado para o interesse e necessidade da
criança, conforme já discutido.
Vygotsky (1993, apud
MAIA, 2007, p. 22) menciona que o aprendizado é uma das principais fontes de
conceitos da criança em idade escolar, e é também uma poderosa força que
direciona o seu desenvolvimento determinando o destino de todo o seu
desenvolvimento mental. A autora ainda comenta que, diante dessa perspectiva, a
escola, em especial o professor, deve proporcionar meios para que a criança formule
os seus conceitos, colaborando no seu desenvolvimento cognitivo, social e
afetivo. A literatura é uma forma de expressão que pode ser utilizada em sala
de aula, tanto de maneira lúdica quanto pedagógica, para auxiliar nessa
construção.
Existe
a necessidade de refletir sobre a importância de um enfoque estético na
abordagem do livro para o público infantil. Segundo Zilberman (1987), apud Maia, formar o leitor crítico é uma
atribuição do professor e, nessa missão, a literatura
desempenha uma função formadora que se distingue da pedagógica. Atrair o
interesse da criança é uma tarefa que exige dedicação e envolvimento, já que
apresentar a literatura sem querer impor o caráter meramente didático depende do
conhecimento do educador sobre questões teóricas e conceituais acerca da
literatura.
De acordo com a
abordagem de Joseane Maia (2007, p.49) “a obra que apresenta qualidade
literária – que leva o leitor a tomar consciência do real, a posicionar-se
perante a vida, a perceber os temas e os tipos humanos presentes na trama
ficcional, a conviver com as ‘realidades’, frutos do imaginário -, essa obra
permite amplas possibilidades de romper a subserviência da arte em relação com
a educação”.
A literatura deve ser proposta pela
escola de forma em que desafie a criança, desempenhando, através do seu
fenômeno artístico, uma postura crítica, autônoma e inquiridora, vindo a
exercer papel transformador no processo ensino-aprendizagem. Por meio do seu
mundo imaginário e fantástico, colabora para que a criança vivencie o seu
cotidiano de forma harmônica, criativa e construtiva.
Gregorim filho (2009,
p. 64) reflete que a literatura pode e deve ser encarada como ferramenta
imprescindível para o início das discussões geradas pelos temas, como a
pluralidade cultural ética, entre outros, trabalhando no sentido de formar
cidadãos éticos, plurais e participativos. Já que literatura é arte e forma de
expressão, nada como usufruir dela para explorar essa questão.
A literatura, como veículo de
informação e lazer, sob o olhar de Gregorin Filho (2009, p.51), promove a
formação de um indivíduo com potencialidades de argumentar, interagir com o
mundo que o cerca e tornar-se agente crítico e reflexivo de modificações na
sociedade que faz parte. Na construção da identidade cultural de um povo, a
literatura se destaca, pois oferece os universos de relações produzidos na
história, quer dizer, desde os espaços.
Abramovich cita que “ler histórias para crianças, sempre,
sempre... É poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas
personagens, com a ideia do conto ou com o jeito de escrever dum autor e,
então, poder ser um pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de
divertimento... É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida
em relação a tantas perguntas, é encontrar outras ideias para solucionar
questões [...]. É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos,
dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos – [...] e, assim,
esclarecer melhor as próprias dificuldades ou encontrar um caminho para a
resolução delas. [...] (1989, p.17)”.
A literatura infantil passa a ser fonte inesgotável do
conhecimento, propagadora pela necessidade do público infantil em buscar mais,
envolver-se no universo literário trazendo para a sua realidade a magia, a
criatividade, e o que é fundamental, a aprendizagem. O seu oferecimento no
contexto escolar pressupõe o incentivo à leitura, cabendo ao professor ser o
desafiador na formação de leitores críticos e reflexivos.
“Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar
a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança
e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por
fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque
usam de fórmulas visíveis e, portanto, vitais, outras porque vivem da mesma
vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma
história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema
é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega,
pois que ninguém fala em verso”.
Fernando
Pessoa