O ambiente escolar tem como função primordial criar
espaços e oportunidades para que as crianças se desenvolvam através de
atividades lúdicas, tanto em sala de aula como fora dela, permitindo que os
conhecimentos sejam construídos de maneira interessante, envolvente, provocadora,
possibilitando que o educando se desenvolva como um todo.
O autor Domingos Paschoal Cegalla (2005), trouxe o
seguinte conceito da palavra ambiente no Dicionário Escolar da Língua
portuguesa:
1 Conjunto de
elementos físicos que nos rodeiam; o meio fisico em que estamos: A poluição
agride o ambiente.2 Lugar, recinto: É um spray para grandes ambientes. 3
Conjunto geral de condições que envolvem alguém; clima: Saiu logo da festa
porque não tinha ambiente. 4 adj. Que cerca, circunda ou envolve os corpos por
todos os lados: Controle da temperatura ambiente. (p. 58)
Através desses conceitos, pode-se citar aqui para uma
relação mais precisa entre a criança-escola, o adjetivo que cerca, circunda e
envolve os corpos por todos os lados. Isso porque a escola é um ambiente onde
são propostos, ou deveria ser, espaços desafiadores em todos os cantos,
oportunizando a criança a exploração, envolvimento e socialização com
diferentes culturas, já que cada participante desse processo educativo traz
consigo uma grande diversidade sócio-histórico-cultur
Bassedas, Huguet e Solé (1999) trazem que:
O ambiente é definido
por elementos, espaços, condições, situações e relações que fazem parte do
contexto da criança e que incidem no seu desenvolvimento. O meio é o que abarca
os ambientes e os objetos físicos, bem como as organizações e as relações
sociais imediatas dos outros âmbitos que, mesmo com o seu caráter mediador (por
exemplo, a televisão), e a sua distância física e temporal, estão estreitamente
relacionadas com os interesses da criança e despertam sua curiosidade e seus
desejos de saber. (p.71)
A
criança necessita que a ela sejam dadas possibilidades, não somente na escola,
mas no ambiente familiar e no meio onde está inserida. Tudo para que possa
desfrutar de sua infância, às vezes deixada de lado para assumir a
responsabilidade e comportamento do mundo adulto.
O Referencial Curricular Nacional para Educação
Infantil afirma que:
O espaço
deve propiciar condições para que as crianças possam usufruí-lo em benefício do
seu desenvolvimento e aprendizagem. Para tanto, é preciso que o espaço seja versátil
e permeável à sua ação, sujeito às modificações propostas pelas crianças e
pelos professores em função das ações desenvolvidas. (Volume I, 1998, p. 69).
A
aprendizagem em um ambiente escolar deve estar relacionada com a organização
dos tempos e espaços a serem propostos na educação do sujeito. Para
isso, é necessário o envolvimento da instituição em oferecer um ambiente
acolhedor, afetivo e provocador das aprendizagens, o que torna responsabilidade
do educador organizar de forma lúdica e educativa os espaços, e função da
escola oferecer recursos para que as estruturas espaços-temporais sejam
proporcionadas.
A
partir do Dicionário Aurélio da Lingua Portuguesa, do autor Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira (2004) traz-se o conceito do aprender:
1 Tomar conhecimento
de: aprender a lição.2 Tornar-se capaz de algo, graças a estudo, observação,
experiência, etc.: Aprendeu a falar inglês. 3 Adquirir conhecimentos ou
experiência: Aprendeu a costurar com a mãe. 4 Tomar conhecimento de algo,
retê-lo na memória, graças a estudo, observação, experiência, ect.[conjug:
[aprend]er]. (p. 60)
O conceito de aprender que estabelece uma relação mais
condizente com o ambiente escolar e a criança cita tornar-se capaz de algo,
graças a estudo, ou seja, ao envolvimento, à observação, as vivências e as
descobertas a partir dessa exploração. A escola deve oportunizar um ambiente
desafiador capaz de propiciar que a criança seja ativa, participante, curiosa,
desenvolvendo assim suas capacidades de aprender.
Assim, o
desenvolvimento cognitivo ocorre pelo processo de internalização das vivências
e da relação que a criança estabelece
com o meio em que está inserida, socializando suas descobertas a partir dos
instrumentos oferecidos pela cultura ali existente, uma vez que esse processo
de aprendizagem se constrói de fora para dentro, através do contato com o meio,
com o outro.
Ao
trazer o conceito de tempo, de acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa do
autor Domingos Paschoal Cegalla (2005) pode-se dizer que:
Tempo quer dizer: 1
Sucessão dos anos, dias, das horas, etc.: O tempo implacável fez o trio cair no
esquecimento. 2 período cuja duração se especifica: Já faz um bom temo que ele
não trabalha. 3 Disponibilidade: Agora não temho tempo. 4 Época: Naquele tempo
a vida era mais difícil. 5 Período do ano em que se dão certos fenômenos
naturais; estação: Ainda não é tempo de manga. 6 Duração: Encurtei o tempo do
trajeto. 7 (Mús.) cada uma das unidades do compasso: A mínima equivale a dois
tempos e a semínima, a um tempo. 8 Cada um dos dois períodos em que se divide a
partida de futebol ou outras competiçoes esportivas: Os gols só saíram no
segundo tempo. 9 estada: Nosso tempo na Françaestava para terminar. 10 Conjunto
de condições metereológicas: O tempo bom favoreceu o espetáculo. 11 Ocasião
propícia para alguma coisa: Já é tempo de escolher uma esposa. 12 Prazo: É
melhor dar um tempo [...] (p. 816)
Para fazer uma relação entre espaço-tempo na aprendizagem
infantil, traz-se o conceito de tempo como um período cuja duração se
especifica. Quer dizer das rotinas propostas pela escola. Quando a criança vem
para a sala de aula, o educador apresenta na sua prática pedagógica a
organização das rotinas a ser propiciadas às crianças, respeitando a
singularidade de cada uma, o seu tempo de desenvolvimento e o seu contexto.
A criança, ao ingressar na escola, traz consigo a sua
rotina diária, os seus hábitos e vontades. Cabe ao educador, com o apoio da
escola, oferecer um espaço em que possa ser organizadas as diferentes rotinas que
ali se estabelecerão, procurando fazer uma inter-relação entre elas, para que
possa se desenvolver as aprendizagens de forma lúdica e significante.
Porém,
Bertolini (1996, p. 530) apud Barbosa (2006) diz que:
O excesso de
rotinização impede a exploração, a descoberta, a formulação de hipóteses sobre
o que está para acontecer. Em outras palavras: trata-se de combinar routine e
variação, de oferecer à criança um andaime, uma estrutura feita de tempo,
espaço, fórmulas verbais que lhes permitam a exploração, a inferência, a
decifração do que acontece, os experimentos mentais sobre quando sucede. (p.
44)
Essa
preocupação referente ao excesso de rotinização no ambiente escolar diz do
educador trazer o conhecimento pronto
para a criança sem mesmo respeitar o seu conhecimento prévio, as suas vivências
trazidas para a sala de aula, as quais podem colaborar na diversificação e
ampliação das culturas, das aprendizagens.
Bassedas,
Huguet e Solé (1999) citam que:
O tempo e aprender e
o tempo de viver e crescer não estão separados e, em todo momento, a criança
cresce e parende graças à ação educativa das pessoas que a envolvem e às
experiências que tem no seu contexto. Por esse motivo, quando planificamos o
que faremos na sala de aula ou na escola, devemos considerar todos os momentos
da jornada refletindo e valorizando os diferentes aspectos que aqui incidem.
(p. 100)
Assim,
considera-se a importância dos espaços, as situações de aprendizagens ali desenvolvidas,
a equipe ativa no processo e a organização temporal. A escola como um espaço
privilegiado da criança, precisa aplicar a sua pedagogia através do olhar da
criança, dialogar de acordo com a sua linguagem, lembrando sempre que o lúdico
é a linguagem da criança.
A
educadora Maria do Socorro Feitosa, do CEI
da Mina (2000) fala que:
Aprender a gerir o
espaço e saber cuidar dos materiais de uso coletivo é um desafio para as
crianças. No início, é o adulto que dá o norte para esta organização, mas deve
incluir gradativamente as crianças no aprendizado. Nesse sentido, as rodas de
conversas p´revias e posteriores à organização ajudam as crianças a irem
construindo autonomia no uso do espaço coletivo. (s/p)
A
estruturação do espaço físico, a forma como os materiais estão dispostos e
organizados influenciam os processos de ensino e de aprendizagem e auxiliam a
construção da autonomia na criança. Para desenvolver sua identidade, é
fundamental que ela sinta-se protegida e esteja inserida em um ambiente
estável, conhecido e acolhedor. Os espaços são concebidos como componentes
ativos do processo educativo e neles estão refletidas as concepções de educação
assumidas pelo educador e pela escola.
Dutoit (1995, p. 74) citada por Barbosa (2006), aponta a
centralidade do conceito de rotina na ação pedagógica para as crianças de
creche e pré-escola. Ela diz que:
A rotina é
considerada como algo estanque, inflexível, até pela definição da própria
palavra, porém ela é a espinha dorsal de uma creche e através dela são
organizados o tempo, o espaço e o conjunto de atividades destinadas às crianças
e aos educadores. [...] A rotina representa a concepção que se tem de educação,
homem e sociedade e, principalmente, a concepção de infância, porque
traduz através dos fazeres o que se
compreende da função de uma creche. (p. 109)
O espaço físico pode ser transformado em
espaço educativo, dependendo da atividade que nele acontece. A criança, ao
estabelecer relações entre o mundo e as pessoas, interage com o meio,
manifestando suas emoções, seus sentimentos, suas conquistas, que podem
modificar o ambiente.
As autoras Barbosa e Horn (2001) citam que
“compartilhamos da idéia de que o espaço físico e social é fundamental para o
desenvolvimento das crianças na medida em que ajuda a estruturar as funções
motoras, sensoriais e simbólicas, lúdicas e relacionais”. ( p.73).
A
escola é um espaço de trocas e de construções coletivas definidas na sua filosofia,
nos princípios educativos implícitos no projeto pedagógico assumido pela equipe
escolar. É importante que a sala de aula seja um lugar provocador das
aprendizagens, respeitando a diversidade cultural que cada criança traz
consigo, o seu contexto, já que será
nesse ambiente que as crianças irão vivenciar as suas experiências e
descobertas.
Barbosa
(2006) diz que:
Não percebemos
espaços, senão lugares, isto é, espaços elaborados, construídos. Espaços com
significados e representações de espaço. Representações de espaço qque
visualizam ou contemplam, que se rememoram ou recordam, mas que sempre levam
consigo uma interpretação determinada. Uma interpretação que é o resultado não
apenas da disposição material de tais espaços, como também de sua dimensão
simbólica. Nada é melhor do que falar; nesse caso, no valor didático do
símbolo, um aspecto a mais da dimensão educativa do espaço. (p. 119)
Nesse
ambiente construtivo, surgem idéias a serem cuidadosamente trabalhadas. A sala
é o lugar do jogo, do faz de conta, da socialização, da liberdade e do
desenvolvimento da imaginação. Lugar em que as crianças sentem-se seguras, integrantes
das aprendizagens, desafiadas a pensar, se envolver, para que favoreçam seu desenvolvimento.
A tarefa do professor está voltada para
provocar o desejo da criança em buscar as aprendizagens. Ele a instiga e
organiza diferentes situações recreativas, sociais, lúdicas, para que ela venha
a participar, com autonomia e interesse, da construção do seu próprio
conhecimento.
As
trocas realizadas no ambiente escolar são fundamentais para o desenvolvimento
da criança, sendo que através delas, abrem-se outras possibilidades de
aprendizagens. Horn (2004, p. 16) destaca que o espaço físico “não é algo dado,
natural, mas sim construído”. A escola constitui-se em lugar ideal para
oportunizar não só aprendizagem, mas também a criticidade, criatividade,
interação e convivência.
Barbosa e Horn (2001) afirmam que:
As aquisições
sensoriais e cognitivas das crianças têm estreita relação com o meio físico e
social, pois ele ajuda a estruturar as funções motoras, sensoriais, simbólicas,
lúdicas e relacionais. “Ao desenvolver seu esquema corporal, sua percepção
ultrapassa as fronteiras do eu e do não-eu, aprendendo a lidar com as cobranças
do contexto no qual estão inseridas” (p.75).
No
ambiente físico, a criança tem a oportunidade de manifestar seus desejos,
tocar, sentir, emitir e escutar sons e palavras, construir regras que
normatizam o uso de diferentes espaços, móveis, equipamentos e instrumentos.
Isso lhe permite observar, categorizar, escolher e propor atividades a serem
desenvolvidas em sala de aula.
Frago
e Escolano (1998, p. 26) apud Barbosa (2006) trazem que “o ambiente é
fundamental na constituição dos sujeitos, por ser um mediador cultural tanto da
gênese como da formação dos primeiros esquemas cognitivos e motores, ou seja,
um elemento significativo do currículo, uma fonte de experiência e
aprendizagem”. (p. 121)
O
Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (1998) diz que:
É aconselhável que os
locais de trabalho, de uma maneira geral. Acomodem confortavelmente as
crianças, dando o máximo de autonomia para o acesso e uso dos materiais.
Espaços apertados inibem a expressão artística, enquanto os espaços
suficientemente amplos favorecem a liberdade de expressão. Vale lembrar que os
locais devem favorecer o andar, o correr e o brincar das crianças. Devem,
também, ser concebidos e equipados de tal forma que sejam interessantes para as
crianças, ativando o desejo de produzir e o prazer de estar ali. Precisam,
igualmente, permitir o rearranjo do mobiliário de acordo com as propostas. Faz parte do processo criativo uma certa desordem no local causada, por
exemplo, pela variedade de materiais utilizados. A arrumação do espaço ao término
das atividades deve envolver a participação das crianças. O espaço deve
possibilitar também a exposição dos trabalhos e da sua permanência nesse local
pelo tempo que for desejável. (p.110)
Um
ambiente favorecedor do desenvolvimento da autonomia da criança está
intrinsecamente relacionado ao seu planejamento. A possibilidade de atuar
livremente favorece diferentes aprendizagens, uma vez que a criança escolhe,
decide, levanta suas hipóteses, aguça sua capacidade crítica e criativa.
Porém torna-se necessário que o professor ofereça
situações lúdicas e provocantes, capazes de propiciar à criança o
desenvolvimento do seu imaginário, da sua capacidade de observação e
investigação do meio que a cerca. Assim, ela estabelece suas relações com o
outro e o espaço.
Barbosa
e Horn (2001, p. 73) destacam que, ao pensar no espaço para as crianças,
deve-se levar em consideração que o ambiente é composto por gosto, toque, sons
e palavras, regras de uso do espaço, luzes e cores, odores, mobílias,
equipamentos e ritmos de vida. Também é importante educar as crianças no
sentido de observar, categorizar, escolher e propor, possibilitando-lhes
interações com diversos elementos.
O
professor da Educação Infantil ocupa a função de mediador, o que lhe permite
observar comportamentos e interagir sobre eles. Em algumas situações, ele
intervém, instigando a criança a pensar, a refletir sobre o que está
acontecendo. Nem sempre é necessário intervir, pois muitas vezes, as próprias
crianças resolvem as situações-problema e encaminham soluções.
O
Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil menciona que:
O trabalho com o
espaço pode ser feito, também, a partir de situações que permeiam o uso de
figuras, desenhos, fotos e certos tipos de mapas para a descrição e representação
de caminhos, itinerários, lugares, localizações, etc. Pode-se aproveitar, por
exemplo, passeios pela região próxima à instituição ou a locais específicos,
como a praia, a feira, a praça, o campo, para incentivar a pesquisa de
informações sobre localização, caminhos a serem percorridos, etc. Durante esses
trabalho, é possível introduzir nomes de referência da região, como bairros,
zonas ou locais aonde se vai, e procurar localizá-los nos mapas ou guias da
cidade. (p. 233)
Nessa visão, o educador deve propor
em sua prática pedagógica, não somente o espaço delimitado da sala de aula, mas
envolver o contexto em que seus alunos estão inseridos, valorizar a realidade
de cada um e trazer para o desenvolvimento das aprendizagens a diversidade
cultural que o meio proporciona. O conhecimento está muito além do que os
cantinhos na escola, mas nas ruas, nos ambientes produtores de informações, nas
vivências das crianças. Ao promover a inter-relação entre todos os
participantes desse processo, cada um, no seu tempo, construirá suas
habilidades cognitivas, afetivas e psicomotoras.
Sabe-se
que o conhecimento é construído por meio das relações entre os seres humanos,
num processo de trocas e mediações que desencadeia a produção e reprodução de
saberes práticos, conceitos, valores, formas de relação. Por intermédio de
relações significativas com o conhecimento, num confronto permanente entre
aquilo que já se sabe e o novo, o ser humano aprende e desenvolve-se cognitiva
e emocionalmente.
Texto retirado de documentários eletrônicos, com algumas reflexões.